sexta-feira, 25 de março de 2016

Choros da minha pequena

Ouvi os choros da minha filha em plena madrugada
Eu já estava cansada
Ela parecia jamais dormir
Levantei da cama com sono, vesti um sobretudo por cima do pijama
Peguei as rosas negras do vaso de flores da sala
Saí de casa inspirando o ar gelado da noite
Caminhei pelas ruas quase desertas
Assim que pisei na entrada do cemitério os choros ficaram mais altos
Andei pelo gramado entre as lápides e parei em frente a uma em perfeita arrumação
Deixei as rosas em frente ao túmulo e os choros cessaram
Suspirei
Passei a mão pela gélida lápide sentindo meus olhos marejarem
Observei por mais um tempo a lápide da minha filhinha, assim que me afastei os choros pareciam querer começar novamente
Voltei para casa e me deitei na cama ainda ouvindo os choros da minha pequena filha... que nasceu morta a dois anos...

~Criadora

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A Loja de Ossos

                              A Loja de Ossos


          Eliza apertou mais o casaco de lã contra o seu corpo, o clima na pequena cidade nunca estivera tão frio. Pegou o pedaço de papel do bolso e verificou o endereço novamente, olhou para os lados a procura de alguém para pedir informação, mas não havia ninguém. Com um suspiro de frustração voltou a andar. Sorriu ao ver o local que procurava, uma velha loja, a placa quase apagada dizia: Loja de Ossos. Eliza abriu a porta que rangeu, um sino acima da porta tocou. O interior da loja era pequeno, três estantes nem tão altas nem tão baixas dividiam em dois corredores, no final um balcão de madeira escura e encima uma velha máquina registradora, atrás do balcão um senhor de certa idade limpava algo semelhante a uma caixa, apenas levantou o olhar quando ouviu o sino mas logo voltou sua concentração ao objeto. Eliza olhou às estantes, inúmeros objetos aparentemente feitos de ossos enchiam elas. Uma pulsei chamou sua atenção, pegou a mesma e experimentou, admirou a pulseira por alguns segundos

- Quanto custa a pulseira? - Eliza perguntou ao homem atrás do balcão. Ele levantou o olhar para a garota e depois para a pulseira, voltou a olhar a caixa

- 10 dólares - Falou, sua voz era grave, causou arrepios na garota. Mas a pulseira era bonita e consideravelmente barata. Andou até o balcão e deixou o objeto no mesmo

- Vou levar - Tirou uma nota de 20 dólares do bolso do casaco e entregou ao vendedor. Ele pegou - O senhor é o dono dessa loja?

- Sim - Ele guardou a nota na registradora e pegou o troco. Entregou o mesmo a garota - Mais alguma coisa?

- Acho que não - Olhou em volta, nada mais chamava sua atenção - Tchau

         Ele nem ao menos respondeu. Eliza saiu da loja e sentiu o ar frio da noite, seus cabelos negros e curtos balançaram. Com tantos desaparecimentos era perigoso andar a essa hora na rua, mesmo sendo uma pequena cidade, haviam muitos desaparecidos que nunca foram encontrados. Começou a andar, faria de tudo para evitar becos e ruas escuras, precisava tomar cuidado e chegar em casa rápido. Ao chegar em casa suspirou de alívio

- Mãe? - Chamou adentrando a casa. Não houve resposta - Pai? - Novamente silêncio

          Encontrou na cozinha um bilhete de sua mãe, avisando que saira com o marido e só voltaria pela manhã, o jantar estava na geladeira. Eliza amassou o papel e jogou no lixo. Aqueceu o jantar e comeu.

           O relógio marcava 11:59 pm. Eliza estava deitada em sua cama, encarava o teto pensativa, em suas mãos estava a pulseira, o que lhe intrigava era de qual animal era o osso. Decidiu pesquisar na internet, pegou seu notebook, pesquisou no google as pulseiras feitas de ossos, mas nenhuma era sequer semelhante a sua. Decidiu pesquisar a loja, mas não havia nenhum resultado. Digitou o endereço, mas nos resultados apenas dizia que era um local vazio, sem loja alguma. Eliza ficou confusa, poderia a loja ser tão antiga que nem ao menos havia o endereço na internet? Para relaxar, resolveu desligar o notebook e dormir

          Eliza nem imaginava que a loja existisse, seus amigos contaram a ela sobre esse assunto, deram o papel com o endereço e a jovem de olhos verdes resolveu ver o local. Levou pouco dinheiro pois não pretendia comprar algo, mas a pulseira chamou realmente sua atenção.

         Acordou pela manhã com o barulho da chuva. Levantou e se preparou para ir a aula. No caminho da escola os mesmos pensamentos tomavam conta de sua mente, ficara curiosa sobre a pulseira e o fato de que a loja não tinha endereço na internet. Ao invés de ir a aula, resolver ir a loja e tirar sua dúvidas. Chegou novamente ao endereço, a loja estava aberta, entrou, mas o dono não se encontrava atrás do balcão. Ao lado do mesmo havia uma porta entre-aberta, do qual saía um barulho estranho. Eliza se aproximou da porta, uma escada velha de madeira permitia a descida para o porão. Desceu com cuidado a escada, se escondeu atrás de algumas caixas de papelão para observar e a cena que viu a chocou. No centro do porão o dono estava sentado em frente a uma mesa, onde lixava um pedaço de osso, vários corpos humanos estavam presos a correntes na parede ao fundo, estavam mortos, com as tripas para fora e algo faltava neles... os ossos. Eliza reconheceu os corpos como os desaparecidos na cidade no último mês. Seu estômago revirou e sentiu os enjoos, pegou a pulsei e tirou de seu pulso, queria correr dali e ligar para a polícia. Ao tentar sair derrubou uma das caixas, o dono levantou o olhar e viu a garota. Eliza correu para a escada mas sentiu uma lâmina atingir suas costas, caiu gemendo de dor nos primeiros degraus da escada, o sangue começou a sair. O dono se aproximou lentamente e puxou a faca, pegou um objeto pesado e acertou na cabeça da garota. Ela estava morta.

          O dono da loja prendeu o corpo de Eliza as correntes ao lado dos outros, retiraria os ossos depois. Pegou uma caixa de metal e andou até um dos corpos já abertos e sem os ossos, começou a pegar os órgãos, fígado, rim e outros. Quando retirou todos, fechou a caixa e subiu s escadas para o primeiro andar, depositou a caixa em cima do balcão, depois de alguns minutos um homem alto entrou pela porta da loja fazendo o sino tocar. O homem andou direto até o balcão e sorriu ao ver a caixa metálica

- Bom dia - O homem falou

- Bom dia - O dono da loja falou - Aqui está, bem fresco

- Parecem ótimos - Abriu a caixa examinando os órgãos - Vou levar para o meu açougue. Obrigado. Até amanhã

- Até - O Homem saiu da loja. O dono voltou para o porão, fechou a porta. Estava na hora de fazer novos objetos